Eu nem sei mais como elogiar o Red Velvet

Se você algum dia for estudar análises críticas, vai se deparar com exaustão em passagens que reforçam a extrema cautela do redator em expor sua preferência, com o mínimo de tendenciosismo possível. Isto é, evitar ao máximo a parcialidade, ainda que anulá-la seja paradoxal ao ato de se realizar uma avaliação.

O correto é, portanto, expor suas impressões com uma argumentação equivalente ao que sentiu, para transmitir isto ao público.

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Com Red Velvet, a mim, tem sido cada vez mais difícil ser calculista nas observações. Não que este blog se leve tão a sério, mas eu não posso simplesmente surgir aqui, postar o MV e comentar coisas como “Ai a Irene tá demais”, “Meu Deus que arraso essa coreografia”, “AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAH”.

Pois vendo o MV de Bad Boy, está é a vontade.

Tudo que eu disse acima talvez tenha me comprometido. Mas combinamos, sério, se você não gostou disso, você está erradx. Não há outra opção. Não me venha com “gosto é gosto” (calma que tô brincando). As meninas da SM, no momento, estão no pináculo da relevância, mesmo que não encontrem resposta popular semelhante ao Twice – sem desmerecer as gurias do JYP, quais também nutro simpatia.

Mas aqui…é um nível completamente diferente. Rivalizado vez ou outra pelo Loona, é verdade, mas com mais competência a regularidade, eu diria. Sem contar, é claro, a versatilidade, grande marca do grupo até aqui, com a apreciação sendo subjetiva.

Ao retomar o lado Velvet, mesmo que não mimetizem o que fora prometido nas épocas de Automatic e Be Natural, o Red Velvet assume uma categoria isolada e inalcançável ao mercado atual. Quem fez isso em outros tempos, foi o próprio f(x), que só agora encontra uma pequena suavidade em seu sumiço, mesmo que a falta nunca seja completamente abatida.

Aquele enquadramento tradicional

Enfim, o que começou com Peek-A-Boo, é ressaltado, reformulado e reativado em Bad Boy, como um spin-off de um mesmo universo. É uma diferenciação consciente, proposital, não um tiro no escuro. E não, principalmente, uma acomodação – é claro que ousadia sem noção é mais demérito do que o contrário, mas o Red Velvet já se encontra num status quase arrogante, no extremo da autoconfiança. E elas justificam isso, é claro.

Tantos parágrafos de maravilhamento, sem tocar no MV em si. O material promocional – visual, pois não ouvi os teasers, assistindo-os no mudo, mais as fotos – talvez seja o melhor de todo o Kpop, permitindo um questionamento, a meu ver, apenas o majestoso trabalho de Red Light, quase 4 anos atrás.

É um Q bem categórico e reverencial, porém não específico. Os vídeos são voluptuosos, bem, bem sugestivos, enquanto as fotos se alternam entre o noir e reminiscências de sci-fis das décadas de 50, 60, algo bem trash – lembrando que o peek-a-boo também fez referência a filmes de terror B de décadas passadas.

Raccord com estilo

Em prática, entretanto, o clipe de Bad Boy segue o abstrato, sem uma história facilmente discernível, como em Peek-A-Boo, por mais que a montagem incutisse um senso de complexidade maior do que realmente era – pura brincadeira narrativa. O livro exibido, intitulado Ceci n’est pas de la levre, é fictício, mas faz referência ao pintor belga da escola surrealista, René Magritte, famoso por telas com legendas que contradiziam seu conteúdo, uma ode à metáfora e a liberdade artística, entre outras opções. Como o MV, é claro, e você coloque esta informação como bem entender em sua compreensão. Pode significar nada; que o que se vê no vídeo não é o que parece, até uma indireta à imagem idealizada que temos de Idols. Está em aberto.

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Ainda fico com Peek-A-Boo, que futuramente certamente estará consolidada entre minhas favoritas de todos os tempos, mas Bad Boy tem vigor para uma participação honrosa, com pulso e flexibilidade, ainda elegante, como se esperava inicialmente desta nuance mais madura, mas sem perder o espírito “nefasto” que a marca assume com o tempo, mas com o tom da rebelião.

Hoje, o Red Velvet janta sozinho.

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